sábado, 20 de julho de 2013

100% de desemprego, 100% de ocupação

Graças aos computadores, à electrónica digital e à robótica, caminhamos cada vez mais no sentido da automatização total de processos e serviços e para um desemprego cada vez maior. Desde a hotelaria à indústria automóvel, desde a agricultura à logística, desde a gestão ao ensino, quase todos os sectores económicos conseguem fazer muito mais com cada vez menos recursos humanos, especialmente para tarefas repetitivas e mecânicas. Um pequeno hotel funciona quase apenas com um único recepcionista e um serviço de limpeza contratado externamente. Um automóvel é hoje quase todo montado e pintado por máquinas e muitas indústrias seguem o exemplo produzindo os seus produtos com muito pouca intervenção humana. Um curso de formação profissional pode ser hoje todo ministrado electronicamente. Um robot pode fazer quase todo o nosso jantar.
Um emprego como caixa de supermercado é a única oportunidade que muitos jovens licenciados ainda encontram hoje no mercado de trabalho. Dentro de poucos anos as compras do supermercado poderão ser entregues, maioritária e directamente em nossa casa tal como acontece com a água, a electricidade ou a internet, quase sem intervenção humana.

A tendência é de dar apenas emprego a bons recursos humanos polivalentes e inteligentes mas, são cada vez menos a fazer o trabalho de muitos. O objectivo parece ser o de um dia, no futuro termos uma taxa de desemprego próxima dos 100%. Digamos que apenas haverá trabalho para capatazes, ou seja, os chefes técnicos dos nossos novos escravos: as máquinas. Usando as palavras do Prof Carvalho Rodrigues, estamos a falar do domínio dos “nascidos” sobre os “fabricados”.

Avançamos no sentido de uma nova escravatura. Em vez de humanos de diferentes raças, etnias, sexos e países, estamos hoje, cada vez mais, a escravizar máquinas e computadores para nos fazerem todos os serviços e produzirem todos os produtos e serviços que precisamos para a nossa vida de conforto bem como para nos ajudarem a gerir as nossas empresas e a nossa vida pessoal. Esta nova forma de escravatura tem grandes vantagens relativamente à anterior. As máquinas não têm férias, nem baixas, nem fins-de-semana, nem fazem greves e, melhor que tudo, são cada vez mais inteligentes e não têm sentimentos. Muitas guerras no mundo foram originadas por vinganças humanas entre gerações que escravizaram outras.
Esta nova escravatura parece, à partida, ser uma notícia excelente. A raça humana parece ter agora a oportunidade de se dedicar a tarefas muito mais leves como a filosofia, a arte, o convívio, as viagens, a discussão política, o desporto ou o simples bem estar sem fazer nada (dolce far niente como dizem os italianos).

No entanto é ainda muito difícil para muitas pessoas imaginarem uma sociedade com um desemprego próximo dos 100%. Aliás, taxas muito menores, inferiores a ¼ deste valor, já estão a provocar grandes convulsões sociais em muitos países. O medo de perder o emprego é enorme mas, talvez o maior medo, seja o de não saber o que fazer quando não se tem nada que fazer ou, pior ainda, que falte uma receita fixa mensal para as despesas básicas da vida.
O bom senso leva-me a crer que:
1. O automatismo e a escravatura das máquinas é inevitável
2. O desemprego vai aumentar tendencialmente (por mais manifestações que façamos)
3. É preciso proporcionar a ocupação das pessoas e meios para a sua subsistência digna
Ao longo das últimas décadas fomos inventando nomes para estes meios de subsistência que foram surgindo e que derivam todos do mesmo: a constante substituição de pessoas por máquinas. Desde o ordenado mínimo, subsídio de desemprego, patrocínio cultural ou pensão de reforma, tudo isto são termos que usamos para definir a receita mensal de quem não intervêm directamente no tradicional processo de criação de riqueza ou de valor para uma dada sociedade, comunidade ou país.

É talvez a hora de se definir um novo termo para o emprego: TAXA DE OCUPAÇÃO

O objectivo de uma sociedade equilibrada e justa será o de ter, no futuro, 100% de Taxa de Ocupação, ou seja que todos estejam de algum modo ocupados a colaborar para o bem estar dessa sociedade. E há muito por fazer! Especialmente nas questões ambientais, desde o vigiar o respeito pela natureza e pelo ambiente, até ao acompanhamento de desequilíbrios sociais, psicológicos, e de saúde púbica, desde a arte à partilha de conhecimento, todo o tipo de ocupação, voluntária ou remunerada, nunca é demais. Pode não haver emprego mas o trabalho é algo que nunca se acaba!
As questões energéticas e de equilíbrio do planeta são provavelmente as mais preocupantes. As máquinas não querem saber se os recursos do planeta se estão a esgotar ou se alguma coisa que fabricam faz mal aos humanos mas, com a nossa criatividade e as máquinas computorizadas como nossas escravas, iremos certamente encontrando soluções pelo caminho.

Nesta mudança de paradigma é provável que aconteçam alguns desequilíbrios na distribuição de riqueza tal como sempre aconteceu no passado. Há quem vá enriquecer muito e quem vá empobrecer demais, mas apenas temporariamente pois, com o tempo e a intervenção das instituições públicas locais e mundiais, creio que, com as máquinas a servirem-nos, temos todas as condições para sermos, afinal, todos patrões de nós próprios e de deixarmos uma sociedade mais feliz no futuro para os nossos filhos.

Nota: Estudo da Universidade de Oxford sobre Futuro do Emprego  clique aqui

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